Reunindo profissionais e interessados em cultura, arte e psicanálise, um concorrido evento aconteceu no hotel Meliá Campinas para o lançamento do livro “Palimpsesto Mágico” e uma MESA REDONDA para discutir esboços do consagrado artista Egas Francisco realizados em sessões de análise, verdadeiros e originais documentos psicanalíticos.

Estiveram presentes o psiquiatra e psicanalista Isac Karniol, o oncologista e escritor Gilson Barreto, o professor e crítico de arte Jorge Coli, a psiquiatra e psicanalista Sônia Rezende e o psiquiatra e psicanalista Plínio Montagna.

As obras estão expostas no Tribunal Regional do Trabalho e vale a visita de todos!

Palimpsesto Mágico

Egas Francisco completou 80 anos de uma vida dedicada às artes plásticas e traz suas obras novamente à mostra, desta vez, de forma inusitada e mais íntima possível.

Em Palimpsesto Mágico, serão apresentados 170 esboços produzidos pelo artista durante sessões de psicanálise, aquarelando com as cores da alma e dos segredos mais abissais, em número variado conforme a sessão, sempre alinhavados à interpretação, em palavras, do psiquiatra Isac Karniol, que junto da psicóloga Patrícia Karniol, idealizaram o evento.

“Dedico minha vida à procura do definitivo que nunca se completa. Não somente o resultado passageiro, mas a vida que desabrocha em sucessivos momentos, parecendo procurar uma forma que, alcançada, também acaba sendo passageira. O desejado é a cada instante sentir-se livre, vivo, participando e participante”, instiga-nos Karniol, psiquiatra, cientista e psicanalista que diz, também, sentir-se em terapia quando em sessão com o artista. Mais que isto, logo percebem que estão se tratando e a “cura” é uma utopia.

Um ou vários esboços em uma sessão acabam representando, em sua finitude, o infinito que é a vida. Quando essa possibilidade de representação é difícil para Egas, é do negro todas as cores que ela acaba surgindo. Ao final das sessões, geralmente Egas e Isac saem fortalecidos, com a imobilidade e a morte em vida vencidas. Egas volta a criar no seu ateliê.

Momentos são documentados não somente pela memória, geralmente falha e deformante, mas pelas sucessivas produções pictóricas. “Esta não é minha arte, aquela que sempre produzi e que me tornou reconhecido. São linguagens espontâneas que me vêm à consciência, executadas em poucos minutos’, explica Egas. Em algumas delas, apesar da rápida execução, toda sua sensibilidade vem à tona artisticamente. “Às vezes, saio à procura do abstrato e, eventualmente, o figurativo predomina; cores vibrantes, sentimentos e emoções que espocam não ficam somente no ar, mas aparecem visíveis no papel”, complementa o artista.

A Psicanálise é constantemente comparada à relação artística entre paciente e analista. Na análise com Egas, pela primeira vez, as produções surgem na própria sessão, na relação analítica com um artista consagrado, podendo, então, ser considerados verdadeiros e originais documentos psicanalíticos.

“Levando em conta os esboços, procuramos, numa linguagem verbal, traduzir em sonho acordado o que teria ocorrido nas sessões. Não é uma verdade absoluta, historicismo rigoroso, apenas uma tentativa”, diz a psicóloga Patrícia Karniol.

Além da mostra dos citados esboços, serão apresentadas seis telas inéditas de grandes dimensões, que representam com relevância o momento de vida que o talentoso artista atravessa. “Achei que a exposição alcançaria maior completude se expuséssemos estas obras de grande impacto dramático, assim como as aquarelas de menores dimensões e as gravuras finearts (em impressão museológica e papel importado), uma novidade recém lançada, com preços muito acessíveis, possibilitando maior disseminação da obra deste artista tão nosso”, diz Ligia Testa, que assina a coprodução do evento.

O livro Palimpsesto Mágico, de Isac e Patricia Karniol, com os esboços de Egas, também estarão à venda no dia. Os psicanalistas reforçam o que lhes motivou à idealização do evento: “compartilhar o momento em que a criatividade-vida se inicia e se expressa através da Arte”.

 

Palimpsesto

No Egito antigo, pintura e escrita eram feitas em papiros. As linguagens neles contidas muitas vezes eram raspadas e novas produções eram aí feitas constituindo os chamados palimpsestos. O casal Karniol imaginou para traduzir o que ocorria na produção dos esboços de Egas a existência de um “palimpsesto mágico”, no qual imagens raspadas eram rapidamente substituídas por outras; concomitantemente as primeiras retornavam, sem que as últimas desaparecessem. Aumentavam para o infinito o número dessas imagens em constante movimento, substituindo-se e retornando, acrescentando a influência de outras variáveis tão dinâmicas quanto emoções, sentimentos, memórias, escolha de pincéis, movimento deles, tintas e cores, além do espectro da consciência.

 

 

Serviço

Local: Tribunal Regional do Trabalho, Rua Barão de Jaguara, 901, Centro, Campinas/SP
Visitação: 19/mar a 26/abr/19
Entrada Gratuita

 

 

 

Fotos: Paulo Fleury / Circuito Fechado